13 de novembro de 2011

Rasgando a película


O homem do ano

Máiquel (Murilo Benício) é um cara desempregado que não se acha lá muita coisa. Numa aposta feita com seu primo, tinge os cabelos de loiro, e por isso, é ridicularizado na frente de sua namorada por um bandido (Wagner Moura) desprezado pelo bairro local. Num acesso de ira, Máiquel mata o bandido, e se transforma no herói do bairro, e recebe "vista grossa" da polícia. Não demora para que Máiquel comece a agir como justiceiro, transformando em negócio matar todos aqueles que são "um mal para sociedade". Logo, de sujeito calmo, Máiquel termina como alguém perigosíssimo, sendo um reflexo das lógicas perversas de uma sociedade que apesar de se sentir abalada com a violência que a cerca, absorve e utiliza tal violência.

O homem do ano é corajoso o suficiente pra caminhar num terreno ambíguo, e apostar num público bastante adulto. Isso porque "o cara estuprou, tem mais é que morrer", e pensamentos parecidos com esse são mais do que comuns. É perigoso se esquecer desse público, porque os discursos dos personagens são pró-violência, o que pode encher mais ainda de argumentos essas pessoas. Foi o mesmo problema em Tropa de elite, quando várias pessoas conhecidas, inclusive Luciano Huck e a revista Veja, exaltavam as atitudes de Cap. Nascimento. A sociedade absorve a violência que a cerca e se esquece das desigualdades sociais, dos fatores históricos que formaram o Brasil, etc. O destino de alguns personagens, principalmente o de Cláudia Abreu, é como um soco no estômago. O que apenas confirma a característica cíclica da violência. Alguns filmes não são fáceis de assistir. 

Também surpreen de o quanto o filme é engraçado, repleto de humor negro. Tudo isso em parte pela ótima performance de Murilo Benício, que além de conseguir "de alguém tímido para alguém perigoso", tem um timingcômico de dar inveja a qualquer daqueles comediantes sem-graça da MTV. E Cláudia Abreu também é excelente, como sempre. E todo o restante do elenco.

E o final do filme só joga na nossa cara o quanto a violência já nos afetou como sociedade brasileira. O que você realmente deseja que Máiquel faça? Ora, quando alguém falar que O homem do ano é mais um filme brasileiro sobre violência e pobreza, e que não vê nada demais nisso, não tente argumentar. Dê um murro na cara dele!

Fabrício Paes Coelho

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