3 de janeiro de 2012

Rasgando a película


Vício frenético

O tenente Terence McDonagh é responsável por investigar a morte de cinco imigrantes do Senegal. O problema é que, por causa de suas intensas dores nas costas, tornou-se um viciado em analgésicos e de drogas pesadas. Consequentemente, sua imersão no mundo das drogas é responsável por levá-lo a níveis cada vez piores de degradação moral, e o vício passa a ocupar todo o seu tempo: o tenente chega ao ponto de resolver seus problemas completamente chapado! Sua investigação, que não deixa de ser "a sério", também é usada pra conseguir mais drogas. E para complicar mais ainda, precisa resolver os problema que a namorada prostituta, o pai e a madrasta arranjam.

Vício Frenético é carregado de dilemas morais e não hesita em mostrar toda a sujeira de uma sociedade. Com uma série de co mentários ácidos, não deixa de demonstrar as consequencias das drogas (e inclui o álcool aqui), de como ela vai ocupando mais e mais espaço nas pessoas, e o que isso afeta na própria sociedade. Mostrando personagens repulsivos ao lado de "comuns", não deixa de dizer que não é muito difícil um se transformar no outro. Isso sem falar na corrupção, na completa falta de consciência, etc. Não é um filme moralista, no pior sentido, mas propõe discussão, ainda que coloque seu ponto-de-vista. E isso nem sempre acontece, quando o filme apenas joga no espectador a dúvida. Ainda assim, o filme é bastante divertido justamente pelo absurdo da situação: rimos quando duas velhas são torturadas, dos alcoólatras, de uma transa humilhando outra pessoa, dos drogados... O que não deixa de ser um problema, porque talvez suavize personagens totalmente reprováveis para parte do público.

Mas o grande trunfo desse filme é mesmo Nicolas Cage. Acostumado a suas atuações over, faz um tenente viciado e com dores de forma perfeita. Os ombros curvados e tortos, o rosto sempre contorcido, os delírios, a satisfação com as drogas, não tem medo de parecer muito feio... O que é mais admirável (nesse sentido) é perceber todo um processo de queda moral e completo vício de alguém, Nicolas Cage consegue sustentar todo o filme.

Infelizmente, o filme também tem alguns problemas. Além de suavizar os personagens por causa de seu humor negro (eu não sei até que ponto isso é problema), a investigação é deixada de lado para nos concentrarmos em seus personagens, e quando voltamos à investigação, é tudo muito rápido, numa sentada só! Além disso, existem cenas que só nos confirmam o óbvio, que o tenente adora ficar chapado. Se bem que uma das cenas mais engraçadas é quando dois iguanas cantam... Enfim, Vício Frenético é daqueles filmes que apresentam personagens que, ao mesmo tempo que nos ofendem, nos fascinam.

Fabricio Paes Coelho

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