16 de outubro de 2012

Rasgando a película: SCOTT PILGRIM CONTRA O MUNDO


SCOTT PILGRIM CONTRA O MUNDO (SCOTT PILGRIM VS. THE WORLD – EDGAR WRIGHT/2010)

Quando assistir á um filme como “Scott Pilgrim” dispense qualquer tipo de preconceito. Qualquer mesmo. Pois o filme pipoca de coisas que alguns adoram e outros odeiam. Eu, particularmente, não sou muito chegado á jogos de videogame, nem a certos gêneros musicais. Mas esse filme faz uma mágica, veja bem: faz com que nos interessemos por esse universo. É um trabalho ágil, instigante, e que nos lembra de como é bom ser jovem e arrojado, ter personalidade, amigos ou inimigos, desejos e inseguranças. Mas o que mais chama a atenção é a linguagem ultra popular que o roteiro utiliza para retratar o universo cotidiano de seu protagonista, tornando-o cheio de cor, mágico até, e permeado por um humor próprio dos adolescentes e jovens adultos de hoje. Vale dizer que o que “De Volta para o Futuro” foi para sua época, “Scott Pilgrim” é para os anos 2000. É claro que o segundo não chega aos pés da grandeza atemporal do primeiro, mas ambos compartilham da sua época a visão da tecnologia, do cenário cultural e da mentalidade de seu tempo. “Scott Pilgrim” é um Milk-shake de referencias, sejam elas comerciais ou nas figuras de linguagem utilizadas pelos personagens.

O papel-título é encarnado por Michael Cera (de “Juno” e “Superbad”), um ator bem menos carismático que Michael J. Fox, mas que possui uma técnica de desempenho própria, nem sempre agradável, mas que o deixa com uma aparência bem realista. Seu Scott é frívolo, cheio de manias, meio estúpido, e pouco dado a heroísmos, mas é exatamente por isso o tipo de personagem que desperta a atenção do expectador, por ser simples na sua definição. Scott divide apartamento com um amigo gay chamado Wallace (Kieren Culkin), um rapaz super corrosivo em suas observações e que adora dar em cima dos namorados da amiga Stacey (Anna Kendrick), aliás irmã do Scott e a pessoa que mais gosta de ridicularizar seu comportamento.

Quando o filme começa, Scott anuncia para seus amigos que está namorando uma colegial chinesa de 16 anos, Knives Chau. O rapaz já estava um ano sem ficar com ninguém, desde que sua namorada anterior o havia abandonado para ficar com outro. Quando a noticia se espalha, Scott vai recolhendo as opiniões a respeito de seu relacionamento, sem conseguir ele mesmo saber o que sente com relação ao Knives, ou sequer descobrir se conseguiu superar sua relação mal fadada. A colegial é uma garota muito divertida e inteligente, que idolatra Scott e tudo o que ele faz, incluindo a banda em que ele toca baixo, a Sex-Bob-omb, para a qual se torna a única e mais devotada fã.

Surge então Ramona Flowers, uma garota que é a conjunção de todas as fantasias do protagonista. Uma menina avessa á opinião alheia, de olhar quase enfadado e que dirige aos outros uma simpatia gélida, mas repleta de promessas, sejam elas de amizade ou de um amor verdadeiro. Mary Elizabeth Winstead, a atriz que interpreta Ramona é excelente, pois consegue transmitir essa arrogância, sem que ela soe ofensiva. É compreensível, portanto que Scott se apaixone por ela, e fique perdido entre esse sentimento e seu compromisso com Knives, que mais tarde se revela uma garota cheia de fibra.

Acontece de Ramona ser cheia de ex-namorados vingativos, que sempre surgem em momentos inoportunos para travar uma luta corpo a corpo com Scott. Entre eles estão um astro de cinema de ação vivido por Chris Evans e um produtor musical afetado (Jason Schwartzman). Nesse ponto o filme ganha um visual de jogos de videogame, utilizando efeitos especiais luminosos e muitos sons eletrônicos. Quando a ação se concentra na luta as sequencias funcionam bem, mas em algumas resultam em momentos constrangedores como a mistura de dança indiana e Fox trote feita pelo primeiro rival de Scott. Baseado na série de quadrinhos escrita e desenha pelo canadense Bryan Lee O´Malley e dirigido por Edgar Wright, “Scott Pilgrim contra o Mundo” é um filme sensacional e que merece passar para posteridade como representativa de uma época culturalmente interligada, onde os jovens se apoiam constantemente na tecnologia para travar suas relações, mas que também necessitam da manifestação artística como forma de expressão.

Por Huan Rafael - colaborador

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