9 de janeiro de 2013

Novo Amapá: o Ontem & o Hoje



Foto: Beliza Alfaia
  
Água… muita água, assim foi o domingo marcado pela apresentação da triste e emocionante peça teatral “Novo Amapá”. Igualmente à tragédia ocorrida a 32 anos atrás, a noite envolveu pessoas e água...muita água.

Público compareceu ao Bacabeiras sob forte chuva (Foto: Beliza A.)


Cerca de 600 telespectadores compareceram ao Teatro das Bacabeiras no dia 06 de janeiro de 2013 para relembrar o 06 de janeiro de 1981, quando a embarcação ribeirinha Novo Amapá, partiu do Porto de Santana e naufragou no Rio Cajari, antes de chegar ao seu destino, o município de Monte Dourado. 


Coincidentemente cerca de 600 passageiros e uma tonelada de carga comercial estavam a bordo do barco que só devia comportar no máximo meia tonelada e 400 pessoas, tanto que o espetáculo, baseado no texto Triste Janeiro de Joca Monteiro, deixou claro em suas cenas que a bordo “subiu gente, subiu carga e também subiu ambição”.


Sempre apresentada no mesmo dia do incidente, a peça iniciada em 2012 surpreende em termos de iluminação, sonorização, figurino, audiovisual e outros pormenores que a meu entendimento (e conhecimento) superam em muito outras produções locais, sinceramente foi a primeira peça amapaense que presenciei ter utilizado todos os recursos disponíveis do Bacabeiras. Outro ponto observado foi a criatividade em forma de esquete teatral, usado para recepcionar o público na antesala do teatro com personagens que conduziram todos ao cenário, cotidiano e rotina do Porto de Santana com seus pregadores de Deus e vendedores de redes, laranjas, chopes, picolés e marmitas. 


Foto: Beliza Alfaia
A tragédia ganhou olhar artístico e poético e tratou sobre as feridas emocionais do envolvidos, o encontro entre os sobreviventes, a saudade de amigos e irmãos, o momento da morte de crianças, o desespero das mães e pais, os órfãos, a tragédia de maridos e esposas, o luto e o silêncio que tomou conta de todas as ruas da cidade, a indignação da falta de punição dos responsáveis pelo crime e do fim de diversos sonhos que naufragaram no Rio Cajari. 

Tudo tratado de forma muito tocante e sem o amargo do afogamento, dos corpos boiando, da podridão das carnes, da depressão e do frio dos que ali coletavam corpos, nem a dor dos familiares que reconheciam cadáveres a beira do cais, nem da frieza dos que tinham que enterrar todos em valas coletivas por falta de caixão suficiente para tantos corpos... fatos narrados em casa quando perguntava a respeito do acidente à pessoas mais velhas, que vivenciaram a realidade do incidente conhecido como o maior naufrágio fluvial da história brasileira.


 Ao final, as companhias teatrais Eureca e Supernova, fizeram justa homenagem aos heróis anônimos que trabalharam e ajudaram voluntariamente durante o desastre e deixaram no ar o apelo pelo que ainda acontece nos dias atuais, quando diversos barcos ainda saem sem a devida fiscalização “apinhados de gente e mercadoria” dos cais e portos amapaenses: uma tragédia anunciada no atual Amapá.

Para conferir mais fotos do espetáculo, clique aqui


Beliza Alfaia

Um comentário:

Zewton Batista disse...

Excelente texto. O espetáculo é realmente muito bom, passa muito sentimento de aflição, medo e, principalmente, revolta.

E pensar que uma tragédia como essa pode acontecer novamente a qualquer momento pelos mesmo motivos.