Foto: Beliza Alfaia |
Água… muita
água, assim foi o domingo marcado pela apresentação da triste e emocionante
peça teatral “Novo Amapá”. Igualmente à tragédia ocorrida a 32 anos atrás, a
noite envolveu pessoas e água...muita água.
Público compareceu ao Bacabeiras sob forte chuva (Foto: Beliza A.) |
Cerca de 600
telespectadores compareceram ao Teatro das Bacabeiras no dia 06 de janeiro de
2013 para relembrar o 06 de janeiro de 1981, quando a embarcação ribeirinha
Novo Amapá, partiu do Porto de Santana e naufragou no Rio Cajari, antes de
chegar ao seu destino, o município de Monte Dourado.
Coincidentemente
cerca de 600 passageiros e uma tonelada de carga comercial estavam a bordo do
barco que só devia comportar no máximo meia tonelada e 400 pessoas, tanto que o
espetáculo, baseado no texto Triste Janeiro de Joca Monteiro, deixou claro em
suas cenas que a bordo “subiu gente, subiu carga e também subiu ambição”.
Sempre
apresentada no mesmo dia do incidente, a peça iniciada em 2012 surpreende em
termos de iluminação, sonorização, figurino, audiovisual e outros pormenores
que a meu entendimento (e conhecimento) superam em muito outras produções
locais, sinceramente foi a primeira peça amapaense que presenciei ter utilizado
todos os recursos disponíveis do Bacabeiras. Outro ponto observado foi a
criatividade em forma de esquete teatral, usado para recepcionar o público na
antesala do teatro com personagens que conduziram todos ao cenário, cotidiano e
rotina do Porto de Santana com seus pregadores de Deus e vendedores de redes,
laranjas, chopes, picolés e marmitas.
Foto: Beliza Alfaia |
A tragédia
ganhou olhar artístico e poético e tratou sobre as feridas emocionais do
envolvidos, o encontro entre os sobreviventes, a saudade de amigos e irmãos, o
momento da morte de crianças, o desespero das mães e pais, os órfãos, a
tragédia de maridos e esposas, o luto e o silêncio que tomou conta de todas as
ruas da cidade, a indignação da falta de punição dos responsáveis pelo crime e do
fim de diversos sonhos que naufragaram no Rio Cajari.
Tudo tratado
de forma muito tocante e sem o amargo do afogamento, dos corpos boiando, da
podridão das carnes, da depressão e do frio dos que ali coletavam corpos, nem a
dor dos familiares que reconheciam cadáveres a beira do cais, nem da frieza dos
que tinham que enterrar todos em valas coletivas por falta de caixão suficiente
para tantos corpos... fatos narrados em casa quando perguntava a respeito do
acidente à pessoas mais velhas, que vivenciaram a realidade do incidente conhecido
como o maior naufrágio fluvial da história brasileira.
Ao final, as
companhias teatrais Eureca e Supernova, fizeram justa homenagem aos heróis
anônimos que trabalharam e ajudaram voluntariamente durante o desastre e
deixaram no ar o apelo pelo que ainda acontece nos dias atuais, quando diversos
barcos ainda saem sem a devida fiscalização “apinhados de gente e mercadoria”
dos cais e portos amapaenses: uma tragédia anunciada no atual Amapá.
Para conferir mais fotos do espetáculo, clique aqui
Beliza Alfaia
Um comentário:
Excelente texto. O espetáculo é realmente muito bom, passa muito sentimento de aflição, medo e, principalmente, revolta.
E pensar que uma tragédia como essa pode acontecer novamente a qualquer momento pelos mesmo motivos.
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