Rasgando a película

Ken Park

Filmes com cenas de sexo explícito são complicados por natureza: quando eles deixam de ser meros filmes pornôs e se transformam em cinema? Seja cinema o que for, acredito que existe um limite para o que é apresentado na telona. Sim, existem filmes ultraviolentos (o que não é um problema); filmes com sexo explícito (também não é problema); e filmes que nos jogam a um universo completamente repulsivo (esses são mais difíceis, mas também não há problema aqui). Irreversível é um exemplo de filme extremamente violento, com fortes cenas dentro de um inferninho gay, e é uma obra-prima. Sim, Irreversível é violento, sexual, mas tem seus objetivos como Cinema. Agora, o que fazer de um filme que busca retratar a transa de adolescentes em qualquer tipo de situação? Um garoto transa com a mãe da namorada, outro tem compulsão por se masturbar, um pai é apaixonado pelo seu filho, e outra é obrigada a transar com o pai porque este viu a filha transando com o namorado; e pra terminar, três desses adolescentes vivem um triângulo amoroso. Seria isso Cinema, ou apenas a expressão de alguém que morre de tesão pela sexualidade adolescente?

Tudo bem, poderíamos até relevar o filme se buscasse retratar a natureza humana, na qual a perversão faz parte. Mas não é isso o que ocorre. Temos cenas de um garoto fazendo sexo oral na mãe da namorada, um rapaz se masturbando e ejaculando, três adolescentes num sexo grupal... enfim, se isso é algo que te excita... Uma coisa é denúncia social (o caso de Anjos do sol, uma denúncia social sobre a prostituição infantil, com cenas de estupros e assassinatos de crianças) e outra é o puro prazer de assistir adolescentes transando, que é Ken Park. Não é nenhuma novidade que adolescentes transam, alguns já me disseram; e não devemos fazer julgamentos morais de um filme, outros também já falaram isso. Se pessoas fossem torturadas de verdade durante as gravações de O albergue, teríamos um problema moral real, e não proposto pela ilusão do cinema. O que acontece com esse Ken Park é que seu diretor, que já era conhecido por ser pedófilo, usa o Cinema para expressar seus desejos. Adolescentes transando pra valer, o diretor se deliciando com aquilo, e convidando os espectadores a se deliciarem também. Temos um problema real aqui.

Outro problema é que, julgando o filme como imoral, corro o risco de ser apenas mais um moralista, aplicando valores arbitrários, que é a sociedade que cria esses valores, e blá, blá, blá. Já disse, sexo não é problema. O que adultos fazem é problema deles. Mas quando filmamos e divulgamos sexo adolescente, não deixa de ser pornografia. E eu me pergunto: mesmo que o diretor assumisse que o filme é pura pornografia, ainda assim, estaríamos assistindo pornografia, ou um crime? E se o filme te excitou, isso faz de você um “cúmplice”?

Essa coisa é apenas a expressão de alguém fascinado pela sexualidade adolescente, e que ainda nos convida a participar de seus desejos doentes. A diferença entre Ken Park, Anjos do sol, Irreversível, se todos tem cenas de sexo, é que enquanto o primeiro é um objeto masturbatório, filmado para excitar, os outros dois filmes buscam discutir temas não muito bem aceitos, e que geralmente ficam escondidos. Não queremos ver essas meninas prostitutas, nem queremos saber que existem pessoas comuns que sentem prazer estuprando alguém. O filme seria válido, talvez, se o diretor o filmasse de tal forma que o espectador precisasse rever constantemente sua própria moral, se julgando sobre suas reações ao que é mostrado na tela.

Onde encontrar?

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Para locação: Mega Video Locadora (Av. Raimundo Álvares da Costa esquina com Leopoldo Machado – Macapá - AP)

Fabrício Paes Coelho