8 de dezembro de 2011

O Custo Amazônico e a Cereja do Bolo

Foto: Nayana Magalhães 

Um festival preocupado não só com a mostra de talentos amapaenses, mas também com o fomento de uma nova mentalidade e formação crítica de artistas e produtores locais. Assim se iniciou a quarta edição do Festival Quebramar, que em sua abertura contou com apresentação do vídeo institucional da Petrobras,  apresentação  “Fora do Eixo” e teaser do “Festival Quebramar 2011” além de um consistente bate papo em torno das “Políticas Públicas para a Cultura e o Custo Amazônico”. A equipe do Blog Eu sou do Norte (Aline Vanessa, Camila Karina, Nayana Magalhães e Karinny de Magalhães, e esta que vos escreve, Beliza Alfaia) esteve lá! 

O debate aconteceu na última terça-feira (6), no Centro de Convenções Azevedo Picanço e contou com a presença de Delson Cruz, representante do Ministério da Cultura no Norte (MINC Norte); Zé Miguel, secretário de cultura do Amapá (SECULT/AP); e Cléverson Baía, vice-presidente do Conselho Estadual de Cultura (CONSEC-AP) e Heluana Quintas, representante do Coletivo Palafita (ACIAP) que na oportunidade mediou as discussões com a crueza e necessidade de dizer o que devia ser dito.

Dos pronunciamentos de Delson Cruz, foi possível extrair a preocupação com a dinâmica de passividade e falta de representação nortista em debates e nas políticas nacionais mais importantes para o segmento, além é claro, de destacar a necessidade de reinvenção de formas circulação para dinamizar a distribuição de cultura em uma região marcada por peculiaridades territoriais “precisamos passar por um momento de pactuação, pois os estados do norte ainda estão às margens das melhores oportunidades. Conhecimento é a cereja do bolo” disse Cruz.

Ecos da preocupação de Delson, também se refletiram nas palavras do Secretário Estadual da Cultura, Zé Miguel, que discorreu sobre o drama de conviver com o custo amazônico atrapalhando o desenvolvimento cultural do estado por meio da excessiva cobrança de taxas, multas, falta de isenção fiscal e pressão política. Miguel reiterou ainda a necessidade de produtores locais procurarem a capacitação e a tecnicidade como um eixo para acessar melhores recursos, “eles existem, mas não há muitas pessoas capazes de acessá-lo. O papel do estado é fomentar e não sustentar”.

Fortalecendo a teia em torno do custo amazônico, muito contribuiu o vice-presidente do Conselho Estadual de Cultura, Cléverson Baia que levantou questões de dificuldades que impedem a interiorização da cultura e a disparidade de valores pagos para receber estruturas deficitárias. Disse ainda discordar de ações de governo que em nada contribuem para o desenvolvimento do setor cultural, “um estado que se sustenta em um tripé baseado no desenvolvimento da segurança pública, saúde e educação já está fadado ao fracasso”.

Parabéns aos representantes da mesa que, corajosamente tocaram em feridas e abriram o peito para uma exposição pública que indica que a cultura anda a passos miudinhos, mas que nem por isso deixa de andar. Assim poderia terminar a noite de abertura do Quebramar 2011, pois até ali já estava claro a necessidade de envolvimento dos mais diversos produtores e entidades de classes culturais. 

No entanto, lá por detrás das galerias, surgiu o desabafo mais quente e aplaudido da noite. Encarnado nas palavras do poeta amapaense Herbert Emanuel, a utopia ganhou o debate por se mostrar nas amarras políticas e retóricas de governos que não mudarão nada do lado de cá “Ainda é possível sonhar com a mudança partindo dos governos, mas ela se mostra mais real na força coletiva dos produtores e grupeiros”.


A programação do FestivalQuebramar continua até dia o 11/12. Acompanhe nossa cobertura aqui no blog! 


Beliza Alfaia

2 comentários:

Alexandre Avelar disse...

Só adendando que houve primeiro a exibição do vídeo da Petrobras! Se puder editar ae, a gente manda a matéria no clipping pra eles. Abs.

Aline Vanessa disse...

um comentário muito importante nessa palestra, também foi o do vice presidente Cléverson Baia: sobre a mudança (reforma) ser "de dentro para fora", casando com o comentário do Secretário Zé Miguel sobre o papel do estado ser de "fomentar e não de sustentar os custos e recursos". Assim, mostra importancia que os "Coletivos" tem nesse momento, onde a união faz a força! E todos de mãos dadas pela cultura, que é "sim" uma prioridade para uma ou qualquer sociedade.