As melhores coisas do mundo
Filme completamente apaixonante, As melhores coisas do mundo é um relato verdadeiro sobre a complicada fase da adolescência. O filme segue a vida de Mano (família, escola, amigos, música, sexo), um adolescente comum, que vê pornografia e se masturba, tem espinhas, que vive problemas tão característicos de sua época, e entende esses problemas da mesma forma que um adolescente: idealizada, e acreditando serem únicas em sua vida. Tanto que os problemas familiares, como o novo relacionamento amoroso de seu pai, a confusão de sua mãe, ou a depressão do irmão (Fiuk, carismático e talentoso, mas desafinado) são percebidos, inicialmente, com ingenuidade de sua parte. E até mesmo uma cantada numa garota mostra que ele não é exatamente um garanhão. Apenas um garoto. Beneficiado imensamente por uma estrutura que valoriza os personagens, e não uma trama exata, já que conhecemos o dia a dia desses personagens, ficamos completamente encantados por perceber como Mano vai amadurecendo, e felizes por entender como ele se relacionará com suas descobertas pelo mundo dos adultos.
As primeiras cenas já começam com aquilo que está na cabeça de 10 entre 10 adolescentes: sexo. E a primeira coisa que entendemos (e rimos de nós mesmos, porque também fomos assim) como é próprio de um adolescente valorizar o ato físico sexual como a única coisa que realmente importa, não perdendo nenhuma oportunidade de sexo, seja com prostitutas, ou em situações constrangedoras. E um adulto sabe que sexo é muito mais que isso, escolhendo quando, com quem, e como, não se tornando refém de apenas fazer sexo. Porém, a experimentação é própria dessa fase, e até necessária. Não deixamos de ficar felizes com a primeira transa do garoto. E esse também é um ponto a favor do filme: ele é feito para um público adolescente. Eles se identificam com a vida de Mano, e o público adulto se apaixona por ele.
O filme termina com várias coisas mal resolvidas, como na vida real, já que nas nossas vidas também ocorre dessa forma. O fim só é com a morte mesmo. O que também é maravilhoso, pelo jeito de Laís Bodanzky filmar, com a câmera livre, sem amarras, ou com uma rigidez que poderia até trazer uma beleza plástica, mas que não serviria aos propósitos do filme. A trilha sonora é deliciosa, Bodanzky está se especializando nisso (assistam o ótimo Chega de saudade).
E o mais apaixonante (já usei essa palavra várias vezes, só para entenderem como o filme me conquistou) é assistirmos dois adolescentes se apaixonando aos poucos. Existe um belo momento, que Mano canta para sua garota, e ela fica encantada com aquilo. De início, pensamos que estão apenas eles dois. Depois, percebemos que há mais alguns acompanhando a melodia, até que o filme revela haver vários por lá. Mas para o casal apaixonado, era como se estivessem apenas eles dois... Ele não canta bem, mas que importa? E tudo isso é tão verdade que vibramos (a platéia gritou! adolescentes...) muito mais com o primeiro beijo dos dois enamorados, do que com a primeira transa de Mano. É muito mais intimidade, é muito melhor. Transar pode ser em qualquer lugar ou qualquer dia. Mas um beijo apaixonado não é qualquer dia, ou com qualquer pessoa. Isso demora... E Mano finalmente percebe isso.
São detalhes como esse que tanto engradecem o filme, e existem bastante deles. Por isso, tem muito mais para se descobrir sobre a família e os amigos de Mano. É só reassistir.
Fabrício Paes Coelho
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